sexta-feira, 10 de julho de 2009

A Alegoria da Caverna

Na alegoria da caverna, Platão resume a aprendizagem do homem, buscando as verdadeiras idéias no mundo maravilhoso do incognoscível. É nessa alegoria que Platão estabelece a comparação entre o mundo sensível e o mundo inteligível, figurando o processo pelo qual a alma passa da ignorância à verdade. Para tanto, lança mão de sombras que se projetam no fundo de uma caverna escura, quando pela sua entrada passam objetos iluminados pela luz do sol.

Imagina, diz ele, alguns homens vivendo em uma moradia em forma de caverna, com uma grande abertura do lado da luz. Encontram-se ali desde a sua meninice, presos por cadeias que os imobilizam totalmente e de tal modo que não podem nem mudar de lugar, nem volver a cabeça e não vêem mais que aquilo que lhes está na frente.

A luz lhes vem de um fogo aceso a uma certa distância, por trás deles, em uma eminência do terreno. Entre esse fogo e os prisioneiros há uma passagem elevada, ao longo da qual imagine-se um pequeno muro, semelhante aos balcões que os ilusionistas levantam entre si e os assistentes e por cima dos quais mostram seus prodígios.

Pensa agora que ao lado desse muro alguns homens levam objetos de todos os tipos. Tais objetos são levados acima da altura do muro e os homens que os transportam alguns falam, outros seguem calados.

Os prisioneiros, nessa situação, jamais viram outra coisa senão as sombras, jamais ouviram outra voz senão os ecos que reboam no fundo da caverna. Falarão das sombras como se fossem objetos reais, terão os ecos como vozes verdadeiras. Esses estranhos prisioneiros são semelhantes a nós, homens.

Pensa agora no que lhes acontecerá se forem libertados das cadeias que os prendem e curados da ignorância em que jazem. Se um dentre eles se levantar e volver o pescoço, e caminhar, e erguer os olhos para o lado da luz, certamente tais movimentos o farão sofrer, e a luz ofuscar-lhe-á a visão e impedirá que ele veja os objetos cuja sombra enxergava há pouco. Ficará deveras embaraçado e dirá que as sombras que via antes são mais verdadeiras que os objetos que são agora mostrados.

E se tal prisioneiro, arrancado à força do lugar onde se encontra, for conduzido para fora, para plena luz do sol, por acaso não ficaria ele irritado e os seus olhos feridos? Deslumbrado pela luz, porventura não precisaria acostumar-se para ver o espetáculo da região superior? O que a princípio mais facilmente verá serão as sombras, depois as imagens dos homens e dos demais objetos refletidos nas águas, e finalmente será capaz de ver os próprios objetos. Então olhará para o céu. Suportará mais facilmente, à noite, a visão da lua e das estrelas. Só mais tarde será capaz de contemplar a luz do sol. Quando isso acontecer reconhecerá que o sol governa todas as coisas visíveis e também aquelas sombras no fundo da caverna.

Lembrando-se então da sua primeira morada, da sabedoria que nela se processa, de seus companheiros de cativeiro, alegrar-se-á com a sua mudança e lastimará a sorte deles. Não sentirá ciúmes das honras, louvores e distinções que lá se distribuem. Preferirá, como o herói de Homero, ser apenas um trabalhador da roça, a serviço de um pequeno lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às suas antigas ilusões e viver como vivia.

Supõe que nosso homem volte à caverna e vá sentar-se em seu antigo lugar. Nessa passagem da luz clara para a obscuridade não lhe ficariam os olhos como que submersos em trevas?

E se, enquanto tivesse a vista confusa, pois bastante tempo se passaria até que os olhos se acostumassem novamente à obscuridade, tivesse que dar opinião sobre as sombras, numa conversa com seus companheiros, não lhes provocará risos de mofa e não dirão eles que, tendo ido para a região superior, voltou com a vista defeituosa de sorte que não vale a pena subir até lá? E se insistisse e tentasse soltá-los e levá-los para o alto, não haveriam eles de pegá-lo e matá-lo?!

O próprio Platão, interpretando a alegoria da caverna, explica que A caverna subterrânea é o mundo visível. O fogo que a ilumina é a luz do sol. O prisioneiro que sobe à região superior e contempla suas maravilhas é a alma que ascende ao mundo inteligível. É o que eu penso, mas só Deus sabe se é verdade. Em todo caso, eu creio que nos mais altos limites do mundo inteligível está a idéia do bem que dificilmente percebemos, mas que ao contemplá-la, concluímos que ela é a causa de tudo o que é belo e bom. (A República, VII, 518b-d).

Essa alegoria desenvolve um pensamento metafórico e a própria explicação do filósofo pode levar-nos a caminhos vários, até mesmo antagônicos. A primeira idéia que nos assalta é a busca da interpretação lógica da significação dessa assimilação do Sol com a idéia do Bem. O símbolo, ou a alegoria, ou o mito quando utilizados pelo não filósofo, é causa maior de propagação do erro; quando, porém, usados pelo filósofo se transforma num caminho largo de acesso à verdade.

O que são as sombras projetadas no fundo da caverna senão esse mundo natural, na maioria das vezes, o único que percebemos? Os prisioneiros somos nós mesmos, agrilhoados ao erro e à ignorância. Aquele prisioneiro que se liberta, que sai do fundo da caverna e atinge o espaço superior, é o homem que procura livrar-se da sua ignorância. É o homem que busca o aperfeiçoamento moral e intelectual, através do estudo, da pesquisa. Se persistir na busca do saber, se lutar incessantemente contra a própria ignorância, alcançará, sem dúvida alguma, aquele mundo onde brilha o sol da sabedoria. Os que não quiserem acompanhá-lo, continuarão imersos nas trevas, enxergando apenas as sombras enganosas e fugidias da ignorância e do erro.

Existe entre as sombras projetadas pelos objetos e entre esses mesmos objetos uma diferença abismal. No entanto, as sombras são, indiscutivelmente, partícipes da realidade dos objetos que passam.

Assim, somos levados a concluir que os seres, todos os seres que contemplamos no mundo sensível, em nossa existência sensível, nada mais são que sombras que passam, sombras efêmeras, transitórias, ínfimas reproduções das idéias puras, eternas, perfeitas, imutáveis, sempre iguais, totalmente iguais, formando o conjunto que se consubstancia no mundo das idéias.
Extraído do site www.guatimozin.org.br
Veja mais na obra A República, de Platão.

Um comentário:

  1. Fico encantada com sua sede de se tornar um ser humano melhor..vejo a cada dia que passa como fui feliz na escolha do meu parceiro, do meu amor. Espero poder sempre compartilhar desse entusiasmante mundo do crescimento que você busca..
    amo hoje e sempre...

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