sexta-feira, 10 de julho de 2009

Absoluto

Não tenho mais os olhos de menino nem o físico de um adolescente, e a pele clara e límpida há muito se manchou. Há ruga onde havia seda. Sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins. (Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

Hoje o que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria; buscar te agradar quando noutros tempos quereria apenas ser amado.

Hoje sou capaz de dar-lhe muito mais do que beleza e juventude. Esses felizes anos, creio eu, ensinaram-me a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor. Ensinaram-me a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te colo de amante e proteção de amigo, e sobretudo força — que vem do aprendizado.

Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem — retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias.

Paráfrase do poema Canção da Plenitude, de Lya Luft, extraído do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim - São Paulo, 1997, pág. 151.

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